Álbum de figurinhas

É 1975, eu tenho dez anos de idade e chega a Araguatins o álbum de figurinhas com premiações; são bolas, ferros elétricos, panelas de pressão, rádios, bicicletas e televisores. Para ganhar é necessário comprar o álbum e completar as páginas com as figurinhas. O ponto de venda é no hotel de Dona Eurídice. Corro até lá para ver a televisão, que só conheço de fotos. E ela se destaca em meio aos outros prêmios; é bela, compacta e imponente como a Monalisa no Louvre. Admirado, levo as mãos à boca e arregalo os olhos. Outras crianças se aproximam. Com a TV desligada, a claridade invade o salão e reflete, na tela, a rua e as pessoas que passam em frente. Olhamos nossas sombras e, contentes, nos admiramos na televisão. Raimunda da Merência, de bermuda, camiseta, meias socket e Conga , observa da porta a televisão, arregala os olhos e fala ao seu modo ligeiro e peculiar de expressar-se: - Ave Maria! Que coisa mais linda... Gente do céu, eu quero ganhar uma bicha dessas. Coisa mais linda