A diva e o borracheiro
Fez a limpeza do rosto e aplicou o primer facial para um aspecto uniforme e prolongado da maquiagem.
Um pincel com cerdas longas e flexíveis espalhou a sombra metalizada para que os olhos aparentassem esfumados.
Com as sobrancelhas alinhadas, aplicou a máscara com a escovinha só nos cílios superiores e finalizou com o curvador.
A base, em tom leve com fundo rosado, era a gradação perfeita para sua pele. Um tom mais escuro em alguns pontos garantiu um bom contorno. Com corretivo deu fim às manchas e iluminou algumas áreas do rosto.
Para delinear usou um pincel chanfrado; pinceis fofos para o pó compacto e o blush, e vassourinha para o iluminador.
Usou lápis para deixar os lábios mais volumosos; e finalizou com batom carmim.
Vestiu um rabo de peixe vermelho, coberto em lantejoulas que refletiam a luz e contrastavam com sua pele alva.
O decote frontal não era muito ousado e o vestido apertadíssimo se ajustava com perfeição àquele corpo esguio.
A costa nua se prolongava até acima das nádegas firmes, e bastante salientes quais as dunas do Jalapão.
Nos pés, o Louboutin preto, o sapato dos sonhos; um prazer que lhe custou dois mil e quinhentos reais.
E encantou!
Das mesas, os clientes admiravam a bela silhueta da diva no palco.
Cantava como um uirapuru; às vezes firme e forte para demonstrar domínio e outras vezes longo e melodioso visando à sedução.
Abusava dos trejeitos e respondia aos galanteios com aquele sorriso enigmático de Monalisa do cerrado.
Ao final do show, aplausos e pedidos de bis se repetiram. Mas, já era hora de voltar para casa.
Ao chegar, tirou as unhas e os cílios postiços, a peruca, os sapatos, o vestido apertado, e limpou a maquiagem do rosto.
O dia iniciava suas primeiras horas e era preciso descansar. Trabalhava por conta própria e a labuta começava bem cedo.
E era sempre assim, quando o amanhecer de sábado chegava, esquecia-se que era uma diva.
No local onde mora, o seu trabalho é outro. A concorrência é muito grande e sempre gostou de ter seu nome em destaque.
Na noite de Palmas é a Diva, a prima-dona absoluta de todas as sextas-feiras.
E ali, no longínquo bairro do Aureny IV, é Jorge Alonso, o borracheiro favorito dos caminhoneiros.
Autor: Cláudio Duarte